América do Sul consolida papel estratégico no fornecimento global de petróleo e gás
Em meio aos debates da COP30 em Belém, a América do Sul se consolida como um dos principais polos estratégicos da oferta global de petróleo e gás.
Enquanto governos discutem descarbonização, metas climáticas e expansão das energias renováveis, países como Brasil, Guiana, Suriname e Argentina avançam em grandes projetos offshore que reforçam o papel da região na segurança energética mundial.
Esse movimento não elimina a urgência da transição energética, mas deixa claro que, na próxima década, o equilíbrio entre demanda, preço e confiabilidade do fornecimento passa diretamente pela capacidade produtiva sul-americana.
A região surge como um dos motores de crescimento fora da Opep+, com estimativas indicando um aumento de aproximadamente 560 mil barris por dia na oferta de petróleo bruto e condensado em 2025, chegando perto de 750 mil barris diários em 2026.
Esse avanço é resultado da combinação entre reservas relevantes em águas profundas, evolução tecnológica, ambiente regulatório mais competitivo e cronogramas de novos sistemas de produção entrando em operação em um cenário em que a demanda global permanece elevada.
Em vez de substituir Oriente Médio ou Estados Unidos, a América do Sul cumpre um papel complementar decisivo, ampliando a diversificação geográfica da oferta em um mercado sensível a riscos geopolíticos, limitações logísticas e mudanças de política energética.
No Brasil, o pré-sal é o principal símbolo desse reposicionamento. Em setembro de 2025, a produção na camada pré-sal atingiu cerca de 4,143 milhões de barris de óleo equivalente por dia, representando aproximadamente 81% da produção nacional.
O desempenho confirma a maturidade da indústria brasileira em águas ultraprofundas, apoiada em projetos de alta complexidade técnica, forte conteúdo tecnológico e ganhos consistentes de eficiência operacional.
Campos como Tupi seguem entre os mais produtivos do país, consolidando o Brasil como fornecedor estratégico para o mercado internacional e referência em desenvolvimento de soluções offshore em larga escala.
A Guiana, por sua vez, se destaca como uma das histórias de crescimento mais relevantes da década no setor de óleo e gás. Sustentada pelas descobertas no bloco Stabroek e pela entrada em operação de sucessivas unidades flutuantes de produção, o país já se posiciona como protagonista entre os novos ofertantes globais.
Projeções indicam que a capacidade instalada pode se aproximar de 1,5 milhão de barris por dia até o final da década, dependendo da execução dos projetos, estabilidade regulatória e condições de mercado.
Esse avanço reposiciona o eixo atlântico norte da América do Sul, amplia a relevância regional em segurança de oferta e cria um ambiente competitivo que exige fornecedores qualificados, soluções técnicas robustas e serviços especializados alinhados aos padrões das grandes operadoras.
A realização da COP30 em território brasileiro adiciona uma dimensão política a esse cenário.
O Brasil tem defendido uma transição energética considerada justa e gradual, alinhada à realidade dos países em desenvolvimento, em que parte das receitas geradas pela exploração de petróleo possa ser direcionada ao financiamento de energias renováveis, infraestrutura sustentável, inovação e redução de desigualdades.
Nesse contexto, o petróleo deixa de ser tratado apenas como antagonista das metas climáticas e passa a ser também visto como fonte potencial de recursos para viabilizar a transformação da matriz.
Na prática, porém, a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global ainda gira próxima de 80%, evidenciando que o desafio é estrutural e não apenas retórico.
No mercado internacional, o efeito combinado da ampliação de projetos na América do Sul e do crescimento da produção em outros países fora da Opep+ se traduz em preços sob pressão no curto prazo.
No início da semana de 10 de novembro de 2025, o Brent é negociado na faixa de 63 a 64 dólares por barril, enquanto o WTI opera próximo dos 60 dólares.
As projeções apontam para um quadro de oferta confortável, com possibilidade de superávit em relação à demanda caso os principais projetos sejam mantidos nos prazos previstos.
Ainda assim, a volatilidade permanece como componente permanente, influenciada por tensões geopolíticas, decisões de corte ou aumento de produção, sanções econômicas, questões de logística marítima e revisões de crescimento econômico.
A sensação de abundância, contudo, não deve ser interpretada como garantia permanente. A concentração de volumes expressivos em poucos polos produtores, o declínio natural de campos maduros e a desaceleração no ritmo de grandes descobertas em algumas regiões levantam dúvidas sobre o equilíbrio estrutural em horizontes mais longos.
Se a reposição de reservas não acompanhar a queda gradual da produtividade, o mercado pode voltar a experimentar um ambiente de aperto, com impacto direto em preços, inflação e acesso à energia, especialmente em países mais vulneráveis e dependentes de importação.
Para a cadeia de suprimentos, isso reforça a necessidade de visão estratégica, diversificação de origens, planejamento de contratos e seleção criteriosa de parceiros industriais.
Projeções amplamente utilizadas pelo setor indicam que a demanda global de petróleo deve atingir um pico no início da década de 2030, próximo de 107 milhões de barris por dia, mantendo um patamar elevado ao longo dos anos 2030 e parte dos anos 2040, antes de iniciar um declínio gradual em direção a 2050.
Nesse intervalo, a América do Sul tende a manter um papel central como fornecedora confiável, apoiada em projetos de grande escala em águas profundas e ultraprofundas, arcabouço regulatório em evolução e capacidade de atrair investimentos significativos em exploração e produção.
O desafio passa a ser combinar expansão produtiva com critérios ambientais, sociais e de governança mais rigorosos, garantindo rastreabilidade, conformidade normativa e redução de emissões na cadeia.
Para operadores, EPCistas, distribuidores industriais, fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços técnicos, o recado é claro: a janela de oportunidades na região está aberta, mas favorece quem entrega consistência técnica, competitividade, capacidade de resposta e alinhamento real com os padrões exigidos pela indústria de óleo e gás.
Em um cenário em que a América do Sul assume protagonismo energético, construir parcerias sólidas, assegurar qualidade de fornecimento e atuar com foco em confiabilidade e responsabilidade deixa de ser diferencial e se torna requisito básico para participar dos projetos que vão definir o próximo ciclo do setor.
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